… um cara ocludos, cabeludo e não muito fácil de lidar pede licença pra entrar numa sala de aula universitária.
No lado oposto da sala se encontrava um menino atento e um tanto presunçoso, que vestia um suéter vermelho e óculos pretos. Gesticulava bastante e, sempre que possível, fazia alguma piada cretina, como mecanismo de defesa.
O cara de temperamento difícil, porém contido, perguntou:
– Professora, posso dar um recado pra aquele menino de vermelho do outro lado da sala?
– Claro, esteja a vontade.
Ao invés de pedir licença e sugerir que o jovem rapaz entusiasmado saísse da sala para que conversassem a sós, ele foi logo entrando e, sem cerimônia, socou com tudo o nariz do menino. E terminou dizendo:
– Isso é pra você aprender a não criar expectativas demais, seu ridículo.
Logo depois, o agressor disse:
– Obrigado, pode continuar sua aula.
Já não podíamos distinguir, no suéter, o que era o tecido e o que era o sangue.
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Devaneios. Presente se confronta com o passado e o passado não consegue se defender.